Dessa vez, qualquer semelhança é mesmo mera coincidência, tá?
Depois de certo tempo – não tanto assim –, a gente se encontrou de novo e foi tudo tão diferente de como pensei que seria…
Lembra a última vez que te vi, antes dessa? aquele sábado de céu estrelado, festa bonita, com música boa, semanas depois do fim. Alí foi estranho, senti uma coisa doída no peito e tentei evitar ao máximo não cruzar com você pra não precisar ter que pensar em como agir.
Dessa vez não. Eu não senti nada. Nadinha. E ao invés de tentar não cruzar com você, até olhei mais vezes pra ver se algo acontecia aqui dentro, mas não. Silêncio total. Respiração igual. Batimentos de um coração calmo.
Você se aproximou e me abraçou longamente enquanto me cumprimentava. Emagreceu. Parecia ainda mais alto que antes e agora até estava se vestindo melhor. Apenas isso. Entretanto, quanta mudança senti dentro de tanta semelhança. Parecia até que eu abraçava um cara qualquer, um conhecido meu, sei lá, do meu curso, talvez.
Me contou sobre sua vida, perguntou da minha. A voz estava idêntica. Foi até engraçado te ouvir, pois já não lembrava mais dela com tamanha perfeição de detalhes. Era a mesma, parecia a mesma, só que não era, sabe? É que não soava mais como as músicas que escutávamos juntos.
Seus olhos grandes tinham as mesmas cores, aliás, confesso que só enxerguei o verde, as outras quatro cores que via antes não consegui identificar. E olha que forcei a vista. Me desculpa. Vai ver eu precise mesmo ir ao oftalmologista, mas acho que isso não tem nada a ver com miopia ou astigmatismo.
Há tantos meses não conversávamos. Me contou das suas conquistas, tinha conseguido coisas novas, bem mais do que eu. Mas também mudou percursos, repensou objetivos… Você sempre foi rápido. Ainda parecia o mesmo sonhador de sempre. Só que agora, mesmo te assistindo animado devaneando, não me imaginava mais realizando com você os planos malucos que um dia quis ser parte.
Você falou bastante. Bem mais do que eu. Quem diria, né? Você sempre foi o mais quieto de nós dois. Me disse que sentia saudades, que daria tudo pra voltar para aqueles dias e fazer tudo diferente. Perguntou se era tarde. Insistiu nisso. Tentou um beijo. Eu interrompi.
Eu queria, juro que queria te dizer que desejava o mesmo. Mas não. Então eu só sorri e me despedi depois de combinarmos uma ida ao bar com nossas respectivas turmas… Uma amizade nova, por que não?
Você disse que esse tempo te mudou e que pra você eu sou a mesma, que o sentimento ficou… Pra mim, você ainda é você, eu ainda sou eu, mas já não somos mais os mesmos. Não existe mais ‘nós’. Só a gente, separado e no singular.
Mudamos. Me perdoe, mas eu mudei, sim. Nem falo da aparência, do estilo, da voz, do abraço ou todo resto que descrevi de você. Isso tá até muito igual pra nós dois. Falo de algo menos tangível, mas mais perceptível, sabe?
Não que eu tenha me modificado. É que ontem eu era aquela que achou que estaria perdida sem você. Hoje sou a que viu que a sua partida foi a minha chegada, ou melhor, a minha volta… pra mim mesma.
Ainda não encontrei o meu lugar, talvez esteja longe. Porém, agora sei mais do que nunca: Ao seu lado não é. Nunca foi. E nem será de outro alguém, entende?
O caminho sou eu que faço, o tal lugar eu acho – ou até crio – e ter ou não ter companhia virou detalhe depois que aprendi a valorizar a melhor de todas elas: A minha.
É… Deu pra ver, né? Dessa vez, qualquer semelhança é mera coincidência. E todo o restante? tá diferente mesmo.