O ‘pra sempre’ nunca durou tão pouco
Eu sei que somos a geração da pressa, presa no engarrafamento, que tem no mínimo três alarmes no celular como despertador pra não correr o risco de perder a hora. A que cumpre vários prazos simultaneamente e é convidada todos os dias para cinco eventos no Facebook.
Estamos sempre atrasados, nunca desconectados, afinal “qual é a senha do Wi-Fi mesmo?”. Vários vão viajar para um lugar incrível e ficam mais tempo perto da tomada, presos a um carregador e mandando fotos do local do que curtindo realmente o passeio e a companhia.
Sei que pra muitos, no final de semana, sair com os amigos significa que irão sentar num lugar, beber o máximo que o fígado permitir, rir de algumas tontices e falar muito. Conversar de verdade? Pouco. Cada um com o seu smartphone mostrando algo que viu no seu ‘feed’ pro outro. A tecnologia tem esse parodoxo: Traz pra perto quem está longe e pra longe quem está perto.
Sei também que nossos empregos e nossos relacionamentos buscam resultados imediatos, existem 10 passos pra quase tudo, compramos milhões de embalagens descartáveis e às vezes lidamos com os sentimentos dos outros do mesmo modo. “Não gostou de algo? então tchau, tem mais cinco, no mínimo, conversando no Whatsapp e te querendo”.
Estar “em um relacionamento sério” nas redes sociais não significa nada por dois motivos, essencialmente. Motivo um: Nem sempre isso quer dizer que exista um sentimento maior do que a carência e a necessidade de parecer bem pros outros. Isso não mostra que a pessoa é, de fato, especial pra outra. Motivo dois: As pessoas vão continuar caindo em cima do seu (sua) namorado (a). Afinal, a culpa não é delas, elas são livres, desimpedidas e fazem o que bem entendem, certo?
Conseguir a menina comprometida virou quase um exercício pra melhorar a autoestima e autoafirmação da vez é dar mole até conseguir “pegar” o namorado da outra. Se achar ruim? É puro recalque. Óbvio. Tá certo, ou melhor, tá ‘serto’. Qual trem será que a empatia, a honestidade e o respeito pegaram pra sumirem assim?
Claro que esses exemplos todos não acontecem com todo mundo. Acredito que em, pelo menos, um você se viu inserido. Sei muitos outros e ficaria aqui pra sempre listando mais mil e uma coisas do tipo. Mas “pra sempre” é muito tempo, né? Não dá! Aliás, “pra sempre” é uma expressão que logo será tão extinta quanto o Tiranossauro Rex.
Enquanto a expectativa de vida só cresce, o “pra sempre” nunca pareceu durar tão pouco. Até lemos e escrevemos muito “eu te amo pra sempre”, “amigos pra sempre”, mas poucos acreditam de fato no que dizem. Todo mundo sabe que o “pra sempre” não existe, até porque nem a vida dura tudo isso. Entretanto saber e querer são coisas totalmente distintas. O peso das palavras parece não existir mais. Falar, prometer, jurar não significam mais nada. Se eu não anotar, não lembro. Se não lembro, não fiz. Ontem à noite a culpa foi toda da cerveja. Eu juro.
Não estou rejeitando a tecnologia, ela virou quase essencial. Nem as redes sociais. Dá pra usá-las de maneira saudável, sim. Muito menos estou criticando os bares, as bebidas, os porres… Esteve, está e estará entre os melhores programas para reunir os amigos. Também não estou dizendo que devemos ter o parceiro como uma propriedade e que se ele resolver terminar é porque alguém ‘roubou’ o pobre inocente de você. Ou ainda que as relações precisam durar “até que a morte separe”.
Pelo contrário, defendo a busca da felicidade, antes de tudo. Não é normal ficar procurando relacionamento a todo custo, mas também não é nada normal ficar fugindo de todo e qualquer envolvimento mais profundo. Vá atrás do que te faz feliz, só não desiste no primeiro obstáculo, na primeira briga, no primeiro defeitozinho. Chega de substituir as pessoas da sua vida do mesmo jeito que você troca de modelo de iPhone ou Galaxy S.
Hoje, toalha molhada em cima da cama parece ser motivo pra divórcio, curtir uma ‘breja’ com os amigos virou traição e confiança só existe pra juntar com o prefixo “des” e formar uma nova palavra, bem mais conhecida da galera, a “desconfiança”. Os amores só não acabam mais rápido que a bateria do meu celular e está cada vez mais fácil e mais difícil se relacionar. Sim. Fácil conseguir, difícil manter.
As pessoas não aceitam nada que fuja da perfeição, temos que passar por filtros todos os dias… E não estou falando de Instagram, falo da vida real mesmo. Se mostrarmos tudo o que somos, todas nossas manias, todos os nossos medos, todos os nossos sonhos, todas as nossas loucuras, ah, dificilmente alguém vai querer, né? Até vai, só não por muito tempo.
“Para com isso, amiga! Demora 35 minutos pra responder pra ele ver que você não está tão interessada assim”. “Sai fora ‘véio’, ela é bonita, inteligente, legal, você parece mesmo gostar dela, mas olha a gata que te mandou mensagem, se eu fosse você, pegava fácil.” Pegava mesmo, assim como largava mais fácil ainda. Já deu galera. Depois das duas décadas de vida, a maturidade não é pra ser um item opcional mais. É um item de série mesmo. Tipo o cinto de segurança do carro, sabe?
Quer pegar e não se apegar? Beleza, faça isso. É ótimo. Todo mundo deveria fazer isso várias e várias vezes na vida… Sem enganar, iludir, trair e mentir. Jogue limpo, não prometa nada, não afirme algo que nem você acredita. Porque do contrário, meu bem, não é falta de compromisso que você está buscando, é a falta de caráter mesmo.
Os relacionamentos relâmpagos, fugazes e avassaladores também têm sua importância, seja pela experiência que se adquire neles ou, simplesmente, pelos momentos prazerosos que proporcionam. É legal saber diferenciar os sentimentos e as situações.
Agora, se as pessoas que estão ao seu lado parecem valer a pena, não as deixe ir embora só por orgulho bobo, ilusões, medo e/ou falta de tempo. Depois não adianta culpar um possível destino, não. Tudo foi consequência das suas ações. Encare isso.
Quando foi que relacionamento estável se tornou sinônimo de chatice e monotonia, minha gente? Se é, algo não está bem. O “pra sempre” sempre acaba, sim, porém não existe coisa mais prazerosa do que ver que a outra pessoa está se esforçando e fazendo o melhor pra que o “pra sempre” de vocês dure o máximo possível.
E se não der certo depois, já valeu sentir isso e ter acreditado que dessa vez o “pra sempre” iria mesmo durar pra sempre ou por muito tempo. Tá sentido que vai? Se joga! Acredite: Não há “like” nenhum que se compare ao abraço que parece dizer “Tô aqui com você pra tudo e não vou embora… Nem amanhã, nem depois.”
(Jessica Delalana)
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