Nessa madrugada, deitada na cama e relembrando de alguns momentos específicos do meu passado, pensei em você. Você, o primeiro babaca da minha vida. Na verdade, não estou falando de algum cara por quem tive uma paixonite no meio do caminho, me refiro a você, que protagonizou comigo a minha primeira desilusão amorosa, de fato. E, por favor, não leve a mal o adjetivo escolhido, foi só pra ficar mais explicativo. Sinceramente, hoje nem considero que você tenha sido mesmo um babaca. Aliás, estou escrevendo pra te agradecer por ter feito tudo o que fez. Sim. Exatamente isso. Você não leu errado. Quero te agradecer.
É lógico que isso não quer dizer que eu tenha sangue de barata. Na época, eu fiquei realmente triste, mais do que isso, fiquei decepcionada. Não é nada fácil ver alguém, em questões de segundos, deixar de ser o mais fofo, inteligente e sensível cara do mundo para se tornar o mais idiota da história da humanidade. Também não é fácil pra uma menina ver aquela mistura de príncipe e sapo dela, de repente, se transformar em um vilão de quinta. Mais difícil ainda foi ter a sensação de que havia perdido um tempo valioso da minha juventude com alguém que eu preferia nem ter conhecido. Naquele momento, você era apenas isso pra mim: Uma terrível e irreparável perda de tempo.
Eu lembro que levou um tempo pra criar uma nova rotina sem você, pra me acostumar com a sua ausência e pra compreender que aquilo que a gente tinha até dias atrás não existia mais. É complicado entender que algo que se parece tanto com o presente, na verdade, já é passado. Mas eu me saí muito bem. Melhor do que eu esperava. As pessoas ao redor não conseguiam entender como eu tinha levado tudo tão na boa. Não era bem assim. Eu ainda pensava em você bastante todos os dias, via cair uma lágrima ou outra dos olhos quando encontrava um objeto, uma foto ou qualquer outra coisa que remetesse a você. Não foi fácil e só eu sei. Porém, foi necessário.
Necessário porque, ao colocar um ponto final naquele capítulo, aprendi não a virar a página e iniciar outro, mas a começar escrever um novo livro, uma nova história, a minha história. Eu já não era aquela menina tão inocente e ingênua que você conheceu. Embora ainda fosse eu, não era mais a mesma. Eu comecei a enxergar tudo de outra maneira, passei a olhar o mundo e as pessoas sob outra perspectiva. Foi como se eu tivesse colocado óculos, um acessório que tornou a minha visão sobre a vida mais realista e menos distorcida. Mas o mais importante foi que, mesmo com as lentes, olhei no espelho e percebi que uma coisa não havia mudado: O brilho dos meus olhos.
Nessa nova ótica, não existiam mais projeções ou ilusões. Você não era mais o mocinho e nem o vilão. Assim como eu não era uma pobre mocinha injustiçada. Pelo contrário, notei que nós dois erramos muito, erramos pra caralho. E entendi, finalmente, que não foi por maldade sua ou minha. Ninguém erra porque quer. Foi só o resultado da inexperiência e imaturidade de ambos.
Hoje, te agradeço. Se você tivesse agido da “maneira correta” e não tivesse me magoado, talvez eu seria pra sempre aquela garota que, erroneamente, se achava mulher. É claro que dá perfeitamente pra amadurecer enquanto se é um casal, entretanto há coisas que só aprendemos no individual. Se tudo tivesse dado certo, acho que eu não teria reconhecido, de verdade, que antes do “nós” há um “eu”, que antes do plural existe o singular, que antes do amor, vem o tempo.
Esse meu agradecimento público não é pra provar que estou melhor agora, muito menos pra desdenhar tudo que tive, como se você tivesse sido apenas mais uma experiência pra mim. É somente pra dizer que depois de você surgiram, sim, outras pessoas, outros erros, outros aprendizados, porém, foi com você – ou sem você – que eu vi que existiam algumas coisas que não se aplicavam somente à época que eu estava aprendendo andar de bicicleta: se cair é só levantar; nada é tão difícil quanto parece ser; a segunda queda é menos dolorosa; equilíbrio é tudo; há coisas que, mesmo com ajuda, a gente aprende sozinha e nunca mais esquece.
É que a vida não teria graça se não surgissem alguns “babacas” antes de aparecer o cara certo. Porque se o cara certo vier na hora errada, a gente não o reconhece e o deixa passar. Por isso, muito obrigada por ter sido exatamente assim: O cara errado na hora certa.
(Jessica Delalana)
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