Sentir amor é fácil. Difícil mesmo é amar. Entende a diferença? Amor é um substantivo. Se você não fizer nada com ele, é apenas mais uma palavra bonita no dicionário. Aí que entra o ‘amar’. Amar é verbo, ação, decisão… Você tem que escolher amar todos os dias, você tem que querer amar… E querer muito.

O amor pode até surgir sem muita explicação, ter uma origem quase cósmica, como muitos dizem. Mas o ‘amar’ não. O ‘amar’ é uma decisão racional… Requer paciência, diálogo, vontade, dedicação, cuidado, persistência e muito bom humor… O amor não dura sem o ‘amar’. Sem o ‘amar’ o ‘amor’ nem chega a existir, de verdade… Ele persiste por um tempo na forma de uma simples paixão e uma hora cansa, adoece, agoniza e morre, deixando uma ou mais pessoas tristes pra trás.

O ‘amar’ faz ainda mais diferença nos amores maduros. Porque depois de muitos anos, só sexo bom e consideração não mantêm ninguém feliz ao seu lado. Engana-se quem pensa isso. Até porque mesmo o sexo se torna sem graça, aos poucos, quando não se ama no dia a dia, quando não se cuida, quando não se insiste em manter a velha chama acesa, quando não se está lá apoiando, quando não se é amigo… Porque aquela atração toda dos primeiros anos perde seu protagonismo e só sobrevive mesmo quem tem outras características para evoluir, quem passa por uma espécie de seleção natural do amor…

O que quero dizer com isso? Você se apaixonar e dizer que ama não faz diferença em longo prazo se não amar nas atitudes, gestos, olhares, carinhos… O amor apenas tem sentido quando muda a vida da gente pra melhor. Se você diz que me ama, mas eu não sinto seu amor, ele não me vale de nada. É preciso sentir-se amado… Sentir, não ouvir.

No início, geralmente, temos tanto entusiasmo por conquistar que damos todo o nosso melhor. Depois, as coisas vão ficando mais tranquilas e é muito fácil se acomodar. Pensamos equivocadamente que o outro nos amará independente de qualquer coisa. Mas não. Até o amor mais bonito morre quando o ‘amar’ deixa de ser um exercício constante.

Tem gente que não aguenta nem ronco, imagina uma doença? Chega de procurar alguém perfeito que preencha sua lista mental besta. Não somos um comercial de margarina, não estamos em uma comédia romântica, não vivemos em um set de filme pornô… Para de pensar que sua vida será um eterno romance. Não é todo dia que estamos alegres, dispostos, saudáveis… Há segundas que mal nos suportamos, quanto mais cultivar o amor do outro?

Nem sempre vai ser lindo, gostoso, limpo e maravilhoso, também será difícil, tedioso, complexo, foda… Ninguém será ideal pra você. Não existe relacionamento sem concessões, sem defeitos, sem coisas não tão boas. E essa é a graça. Uma hora algo desagradável aparece, alguém se machuca, algo dá errado… E aí? Aí que entra o ‘amar’.

A nossa geração está tão acostumada com facilidades, que quando algo não está saindo como o planejado, opta por trocar porque substituir, quando se tem a possibilidade, é muito mais fácil que consertar. Se as pessoas dedicassem ao longo dos relacionamentos toda a energia que dão durante a conquista, existiriam muito mais casais felizes por anos e muito menos pessoas sendo usadas como mercadorias em uma infinita liquidação de corpos fornecedores de prazer momentâneo.

Há uma famosa frase de autoria desconhecida que diz: ‘Não é o amor que sustenta o relacionamento, é o modo de se relacionar que sustenta o amor’. Pra mim ‘amar’ é o modo de se relacionar. Quer que o amor dure? Pois então ame. Verbo, ação, atitude… Comece já.

E aí torça pra que seja recíproco. Porque encontrar alguém que sinta por nós amor nem é tão difícil, mas alguém que esteja disposto a nos amar todos os dias, de domingo a domingo, 365 dias no ano – 366 nos bissextos -, por décadas e décadas tá quase tão difícil quanto levar a Mega-Sena sozinho.

Seja você alguém que escolhe ‘amar’ e aumente nossas possibilidades… É pura estatística. Todo mundo sai ganhando. A diferença é que, nesse caso, ao dividirmos o prêmio, ele se multiplica. (Jessica Delalana)

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